PERSONALIDADES DURIENSES – CONSTANTINO JOSÉ MARQUES DE SAMPAIO E MELO

PERSONALIDADES DURIENSES – CONSTANTINO JOSÉ MARQUES DE SAMPAIO E MELO

Constantino José Marques de Sampaio e Melo (Torre de Moncorvo, 16 de agosto de 1802 — 14 de dezembro de 1873), conhecido por Rei dos Floristas ou Constantino, foi um florista português, considerado um dos mais notáveis produtores de flores artificiais no século XIX. O Jardim Constantino, um jardim de bairro na freguesia Arroios, Lisboa, leva o seu nome.
Constantino, o rei dos floristas. Assim ficou para a história aquele que percorria montes e vales em busca de inspiração e, depois – sempre sentado no chão, como vira as artesãs da sua terra – com os seus dedos ágeis, uma incrível minúcia e inexcedível atenção ao pormenor, transformava delicadas penas de ave em portentosas flores. As suas só diferiam das autênticas, porque tinham a enorme virtude de não murchar, disse-o Amélia das duas Sicílias, à época rainha dos franceses e a primeira a coloca-lo a um nível quase divino, dando-lhe o primeiro “bilhete” para o sucesso.

Parece hoje estranho que se considere esta uma arte maior, mas em meados do século XIX, as flores artificiais eram imensamente apreciadas. Em Paris, a atividade envolvia mais de 30 mil pessoas.
Foi neste mercado altamente competitivo que o português se impôs e revolucionou.
Chegou a França sem nada, mal sabendo ler ou escrever, corria o frio inverno de 1834.
Em cinco anos já fornecia a corte francesa; numa década conseguiu a proeza inédita de as flores artificiais serem admitidas na classe superior das exposições internacionais. Participou em três, sempre arrebatando público e júri, que chegou a quebrar alguns exemplares para se convencer da sua artificialidade.

Quem quer que tivesse poder económico e posição social almejava possuir as suas criações, preferindo as “constantinas” às mais radiantes espécies que os requintados jardins ou as longínquas montanhas fossem capazes de produzir. Constantinas? Sim! Constantino passou a ser adjetivo para os seus primores floridos, mas também para cores e materiais que inventou para melhor alcançar a perfeição, que sempre buscava.
O enlevo era geral: poetas de gabarito enalteceram-no; uma das princesas reais da Prússia quis aprender a sua arte; D. Maria II e D. Fernando receberam-no com pompa em Lisboa; Isabel II de Espanha homenageou-o; Vitória de Inglaterra elogiou-o publicamente; as futuras rainhas de Portugal, D. Estefânia e D. Maria Pia, usaram bouquets constantinos nos seus enlaces matrimoniais.

O caminho até chegar à aclamação global foi, no entanto, o mais espinhoso que se possa imaginar.

Constantino José Marques nasceu a 18 de agosto de 1802, em Torre de Moncorvo, Bragança. Órfão de pai e mãe, foi entregue a uma ama para criação.
A partir daqui, as teorias divergem, pois, por muito que se tenha labutado para dar ao artista uma vasta ascendência nobre, que ele se ufanava de ter, nunca se dissiparam as suspeitas de tal ser mera efabulação.
No entanto, todas as versões convergem na passagem de Constantino pelo convento de São Francisco de Moncorvo, onde despontou o seu amor pelas flores, que se entretinha a imitar com papel e cera. Aos 14 anos, não lhe surgindo vocação para continuar vida religiosa, teve que fazer-se ao mundo ainda mais sozinho. Trabalhou como criado, alistou-se e lutou nas hostes liberais, acabando deportado na ilha Terceira. De regresso, combateu pelos absolutistas e foi dos poucos partidários de D. Miguel que com ele embarcou rumo ao exílio, em Génova.

Estava visto que o destino seria longe da sua terra, onde só voltaria duas vezes, sendo recebido como a celebridade internacional que era.
A saúde abandonara-o e as flores artificiais, que eram a sua vida, passaram de moda. Sem família, fixou-se numa pequena quinta rural em Tercis-lebains, onde terminou os seus dias, em 1873.
Até ao fim, continuou a criar para as igrejas das redondezas, como se ainda se encontrasse no prestigiado atelier de Paris, não imitando a natureza, mas igualando-a, na cor, na flexibilidade, na frescura e até no aroma.
Conta que até os pássaros nelas pousavam, também iludidos com tanta veracidade.
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