PERSONALIDADES DURIENSES – LUÍS MARIA LEITÃO
Poeta de renome e artista plástico foi um militante antifascista, preso e perseguido pela Ditadura do Estado Novo. É obrigado a exilar-se no Brasil, onde acaba por morrer numa visita àquele país depois da Revolução. Era um homem corajoso, desprendido e sereno, um narrador de impressões e de histórias. O seu mais importante livro de poemas, Noite de Pedra, teve grande impacto no panorama da Poesia Portuguesa e na Resistência.
Luís Maria Leitão nasceu em Moimenta da Beira, a 27 de Maio de 1912 e morreu no Brasil, Niterói, a 9 de Outubro de 1987, onde se deslocara em visita, a convite do então Presidente José Sarney. Tornou-se conhecido com o pseudónimo literário de Luís Veiga Leitão. Membro do grupo literário Germinal, para além de poesia, escreveu crónicas de viagens e de costumes. Foi também artista plástico (Desenho).
Viveu a meninice e a adolescência na freguesia de Penso, no concelho de Sernancelhe, residindo na Quinta de São Luís. Lutou, ainda estudante, pela criação de uma universidade livre, empreendimento inviabilizado pela galopante ascensão do regime fascista, no início da década de 30.
Depois de ter concluído os estudos liceais, Luís Maria Leitão desenvolveu diversas actividades profissionais: empregado do comércio, delegado de propaganda médica e escriturário. Desempenhava funções de escriturário numa Brigada Cadastral da Federação dos Vinicultores da Região do Douro, quando foi demitido por ser contra o regime.
Preso no Porto em 30 de março de 1952, é transferido para a cadeia do Aljube, em Lisboa, onde baixa à enfermariaum mês depois. Transferido para Caxias, é punido “com a pena de proibição de visitas durante 30 dias, por manifestações de indisciplina“, sendo depois enviado para o Porto, onde virá a ser libertado em 09-09-1952, tendo sido absolvido pelo Tribunal Plenário.
Na cela 13 do Aljube, incomunicável, iniciou a redacção mental dos poemas que memorizava, dizendo-os repetidas vezes em voz alta e foi-os guardando na memória [o guarda ao ouvi-lo chegou a pensar que estava louco…]. Considerou-os um diário de prisão, e um itinerário das cadeias por onde passou [Pide do Porto, Aljube e Caxias]. Viria a publicá-los em 1955 num livro com o título Noite de Pedra [imagem da noite fascista] e que foi apreendido pela censura.
Percorreu o país e alguns países da Europa, inaugurando, em 1957, no Collège International de Cannes, um curso de tradução de Português e aí foi escritor e conferencista. Sob os auspícios da Universidade de Aix-Marseille, de cuja Faculdade de Letras foi professor, inaugurou um curso de traduções de português com base em modernos textos literários.
Partiu para o Brasil em 1967, já com cerca de 55 anos, e desempenhou várias funções, (algumas das quais, em editoras), como redactor, bibliotecário, desenhador, leitor, investigador, autor e locutor de um programa de televisão sobre a moderna poesia portuguesa, tendo sido também colaborador de publicações periódicas. Mercê deste trabalho, estabeleceu contactos com intelectuais brasileiros, que iriam convidá-lo como conferencista para universidades, nomeadamente o Instituto de Letras de Niterói. Poeta de muitos sonhos e combates, dos seus passos de andarilho pelo mundo, deixou lembrança nos postais com os seus desenhos a tinta-da-china recebidos de Cagliari, Sardenha, Baikal ou Niterói, ou do Brasil, que foi seu poiso para aí se proteger da odiosa vaga salazarista e escrever grandes livros de poemas.
Vivia há sete anos exilado no Brasil quando regressou a Portugal, por uns dias, para respirar os novos ares soprados da Revolução dos Cravos, que triunfara cerca de dois meses antes. Nesse seu regresso temporário às raízes o escritor e jornalista José Carlos Vasconcelos entrevista-o para a RTP, em Julho de 1974.
Voltou para Portugal apenas em 1977 e fixou residência no Porto. Colaborou nas publicações Seara Nova, Vértice, entre outras, e co-dirigiu, com Egito Gonçalves, Daniel Filipe, Papiniano Carlos, Ernâni Melo Viana e António Rebordão Navarro, «Notícias do Bloqueio», uma série de fascículos, publicados no Porto, entre 1957 e 1961, que reuniam a criação poética de diversos autores, subordinada, de acordo com o título da publicação, a um intuito comum de denúncia e combate.
Muitos dos seus poemas conheceram tradução em várias línguas – castelhano, inglês, francês, grego, russo, albanês, italiano, checo, búlgaro, alemão… – e integram antologias da moderna poesia portuguesa, nacionais e estrangeiras.
Principais obras publicadas: Latitude, 1950; Noite de Pedra, 1955; Livro de Andar e Ver, 1976; Linhas do Trópico, 1977; Livro da Paixão-Para Ler e Contar, 1986; Rosto por Dentro, 1992;
Em Moimenta da Beira, este cidadão antifascista e poeta é homenageado com uma placa colocada na casa onde nasceu, e ainda na Galeria Municipal Luís Veiga Leitão. Na cidade do Porto, a Rua Luís Veiga Leitão homenageia o poeta.